domingo, 29 de maio de 2011

DIRETO AO PONTO


DESCONSTRUINDO PARADIGMAS MÉDICOS

José Pinto de Queiroz Filho - Professor Adjunto da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública

A interação médico/paciente e a mesa de consultório

Proxêmica é a ciência que se propõe estudar como os indivíduos interpretam e utilizam o espaço entre eles, dentro do processo de comunicação. Comentarei, aqui, sobre o uso da mesa de consultório, entidade anciã e onipresente, denunciando-a como uma barreira que separa o médico do paciente dificultando a comunicação durante a consulta clínica.

De um lado da mesa -, território privilegiado do doutor -, encontra-se o médico, seu dono e detentor do saber cientifico, que costuma preenchê-la com objetos pessoais, estranhos ao paciente. Habitua-se a sentar-se numa cadeira usualmente mais alta e mais confortável que a do paciente. Esta simples configuração do setting terapêutico costuma atrapalhar a comunicação porque permite que o médico assuma uma duvidosa posição superior e, ao mesmo tempo, funciona como proteção ou defesa (!?) contra as idiossincrasias inevitáveis da interação com o semelhante.

Do outro lado da mesa, frente a frente com o interlocutor, está o paciente na posição inferior de mero visitante adoecido, frágil e cientificamente ignorante, obrigado, por sua condição de doente, a participar de uma interação assimétrica – onde o médico domina e ele é dominado. Neste contexto não tem outra opção, senão retrair-se e se deixar subjugar. Fica ansioso, vulnerável, intimidado impossibilitado, portanto, de se comunicar com a eficácia desejada, principalmente quando o tempo que dispõe é perversamente limitado. Algumas vezes, numa atitude reativa de contestação, tenta ser competitivo e não colaborador agravando a interação com novos conflitos que vão prejudicar, ainda mais, a eficácia da comunicação clínica.

Constrói-se, assim, um contexto vicioso que vai impossibilitar o exercício de uma comunicação de qualidade, necessária para o exercício pleno de uma interação clínica bem-sucedida. Por isso, defendo a abolição do posicionamento da mesa1 que separa o médico do paciente atuando como um obstáculo sólido a impedir a comunicação clínica efetiva.

1 A mesa pode continuar, mas, de preferência, ao lado do médico e do paciente

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